Persuasão de Jane Austen

Acabo de ler Persuasão de Jane Austen e sigo encantada com essa autora.

Anne, a protagonista, é moça das mais discretas e por isso, muito refinada em suas sensibilidades ao meio, já que consegue passar despercebida e enxergar o que ninguém vê.

Ela vê o que acontece ao redor e se envergonha do comportamento esnobe da irmã e do pai.

Ela sabe que perdeu a chance de casar-se pois, após recusar Frederick, marinheiro que apareceu em sua vida 8 anos atrás, sabia que não poderia aceitar mais ninguém.

Ao mesmo tempo, entende o contexto de ter aberto mão do seu noivado, pois agiu pelo dever. Ela não poderia, naquele momento ter aceitado o casório. Foi persuadida por sua madrinha a abrir mão do futuro esposo, por causa dos riscos que suscitavam aquele casamento, afinal: ele era apenas um marinheiro em inicio de carreira e não havia garantia material que aquele homem seria de fato bem sucedido.

Anne sabia no seu coração que Frederick tinha o brio necessário para conquistar os postos que vida lhe ofereceria, mas mesmo assim o recusou por ser persuadida pela noção de “dever” que veio pela boca da madrinha.

Ele foi embora magoado com a recusa e ela perdeu o viço de viver pois sabia que havia perdido uma chance única, a de viver um grande amor. Ela comenta consigo que jamais daria o conselho que a madrinha deu a ela e agora, oito anos depois, jamais deixaria de viver aquilo que lhe foi ofertado.

Ele voltou e a sensação de perda foi ainda maior. Agora era um capitão rico e bem sucedido, a família dela, aristocrata mas falida, não o rejeitaria. Porém agora ele que não a queria mais e pior, estava cortejando uma pessoa próxima de si.

Anne, sutil como era, oscilava entre evitar a aproximação com o oficial, ao mesmo tempo em que, por vezes, sentia necessidade de saber-lhe, inspirar um pouco de sua personalidade. Ela via suas reações nos encontros cotidianos e entendia-o, ainda que este fosse tão sutil quanto ela. A aproximação entre os dois confundia o espírito dela, mesmo que nenhuma conversa mais séria ocorresse entre eles.

Por um momento, ele deixa o convívio próximo a ela e entretida com seus deveres, Anne até mesmo permite a aproximação de um primo recém chegado, herdeiro da família, que passa a fazer-lhe a corte. Ela sente que aquele primo não é sincero, polido demais, sem reações, sem paixão, algo cheirava mal.

O marinheiro volta depois de certo tempo, estava na casa do irmão. Anne toma postura mais aberta em relação a ele, já que sua amiga havia comprometido-se com outro, estavam sem deveres.

Sua sutileza de conduta é notável, pois ninguém nota, mas ela está de aproximando do homem que a encanta. Tem uma cena em que Frederick claramente quer aproxima-se também, mas o primo de Anne está sentado ao lado, cortejando-a. Ele sai abruptamente e Anne percebe que é ciúmes.

Seu coração enfrenta dificuldades pois, aquele homem estava lhe dando sinais que se importava ainda com ela, ao mesmo tempo teme que a presença do primo, afasta-se-o de uma vez por todas.

Por fim, em uma reunião de amigos em comum, Frederick ouve uma conversa em que Anne questiona — para um amigo querido — a constância do amor de um homem por uma mulher, e defende que os homens esquecem mais rápido que estas. Isso impulsiona-o a escrever-lhe uma carta declarando seus sentimentos, dizendo que ele não foi inconstante nos dele por ela, apenas orgulhoso e rancoroso. Ele ainda amava-a e queria outra oportunidade. Era tudo que ela mais queria.

O resumo desse livro não faz jus a delicadeza das ações e sentimentos desses protagonistas. Tudo muito sutil, mas cheio de fogo interior, eles viam um ao outro em pequenos detalhes que ninguém ao redor poderia desconfiar. Era o elo, tecido em fios de seda muito finos e muito fortes, que não poderia separá-los. Anne certamente é minha personagem favorita de todos os livros que já li, por sua sensibilidade e sua riqueza interior. Identifiquei-me com ela nas formas de sentir a realidade, por mais pretensioso que isso soe da minha parte. Jane Austen é ouro puro.